Servidora é surpreendida com homenagem por 40 anos de dedicação à comarca de Araranguá

Oficiala de justiça Márcia Severo é referência e uma das primeiras mulheres a atuar na função em SC
Magistrados, autoridades, colegas de trabalho, amigos e familiares se reuniram nesta terça-feira, dia 8 de abril, para reverenciar a oficiala de justiça Márcia Rejane Balbi Severo. A surpresa para a servidora é um reconhecimento pela marca de quatro décadas de dedicação e serviços prestados à Justiça, todas elas na comarca de Araranguá, e pela trajetória de uma das pioneiras na função em solo catarinense.
Márcia ingressou no Judiciário ao final da ditadura militar no Brasil, em 1985, e desde cedo se destacou pela postura firme e comprometida. Ao ser orientada que o cargo de oficial de justiça disponível em concurso não era indicado para mulher, a jovem destemida, de 21 anos, respondeu que aquela função era, sim, para ela e que gostava de desafios. Os primeiros foram enfrentar o machismo e outros diversos tipos de preconceito para assumir e se manter num lugar até então ocupado somente por homens.
Isso serviu para seu fortalecimento e ajudou a moldar a personalidade de Márcia, que sempre se manteve segura diante das diferenças e dificuldades. Ela cumpria mandados a pé, de carona, e às vezes, quando sobrava algum dinheiro, de táxi. Nesse caminho, um colega, que se tornou amigo, não deixou de lhe estender a mão. Joaquim Mattos foi seu parceiro por muito tempo no desempenho da profissão, assim como João Proença.
As adversidades também contribuíram para torná-la mais sensível, humana e empática com os problemas do outro. Márcia e o forte senso de justiça andam juntos desde sempre. Ela deixa o que está a fazer para ajudar as pessoas, especialmente as menos esclarecidas e mais vulneráveis. A Márcia do Fórum não foi assim rebatizada à toa. Ela faz diferença na vida dos jurisdicionados há 40 anos e é respeitada na comarca.
Durante a cerimônia, o marido, Carlos Alberto de Souza, também oficial de justiça, fez uma confidência. “Ela já disse mais de uma vez que nasceu para ser oficial de justiça e se sente plenamente realizada profissionalmente. Se tivesse que voltar no tempo e novamente decidir o seu futuro profissional, escolheria exatamente a mesma profissão e adotaria a mesma postura que alicerçou sua trajetória, com base nos mesmos valores e princípios que a tornaram esta mulher que conhecemos hoje.”
A juíza Thania Mara Luz, diretora do foro, destacou que a servidora é exemplar. “Márcia dedicou quase uma vida inteira ao serviço da Justiça, sempre com dignidade, comprometimento e humanidade. Porque não é só cumprir mandado ou seguir prazos, é olhar nos olhos das pessoas, muitas vezes em momentos difíceis, e saber equilibrar firmeza com empatia.” A magistrada disse que tem o privilégio de conhecer Márcia há mais de vinte anos. “Nos conhecemos quando eu ainda era servidora, e naquela época Márcia já era uma referência para todos nós. Nesta data, nos cabe apenas agradecer-lhe pela dedicação, amizade e por ser um exemplo de servidora pública e ser humano.”
De uma família ligada à área da educação, Márcia cursou Administração e é pós-graduada em Direito. Tem três filhos. A neta, Cecília, de oito anos, é o xodó e quem deixa sua existência mais colorida. Apaixonada pela vida, gosta de viajar e é uma devoradora de informações. Está atenta a todos os assuntos. Mesmo com tempo para se aposentar, ainda não parou para pensar sobre isso.
Homenagens
Além dos abraços e depoimentos, Márcia recebeu duas placas: uma delas dos oficiais de justiça da central de mandados e outra dos magistrados e servidores da comarca. Elas trazem os seguintes dizeres:
“Nosso reconhecimento por sua respeitável carreira que atinge esta marca admirável de forma exemplar, sempre pautada em princípios éticos, construída com muita resiliência e de forma extremamente vocacionada. Seu pioneirismo, como a primeira Oficial de Justiça mulher desta Comarca, é motivo de inspiração para todos; enquanto que sua contribuição para o Poder Judiciário desta Comarca e todo o seu legado, profissional e pessoal, são indeléveis e permanecerão na memória de todos.”
“É motivo de orgulho e satisfação para todos comemorar esta longeva e respeitável trajetória da primeira mulher Oficial de Justiça desta Comarca, que ao longo dos anos se mantém apaixonada pela profissão e motivada em dedicar-se à sua missão funcional. Competência, honradez, autoconfiança e senso de justiça latente são virtudes que, dentre outras, bem espelham seu caráter e sua marcante personalidade.”
Imagens: Divulgação/Comarca de Araranguá
Conteúdo: NCI/Assessoria de Imprensa
"Há 40 anos como a Márcia do fórum, ouso dizer que não vi o tempo passar. Mas passou. Fui uma das raras mulheres a exercer uma profissão anteriormente masculina em uma sociedade ainda conservadora, onde não havia lugar para mulheres deterem autoridade. Na audácia da juventude não aceitava não poder quebrar paradigmas. Mas vivíamos na época uma realidade que poucos hoje conhecem. Não tínhamos carro, telefone, redes sociais ou meios de suporte como nos dias atuais. Foi uma profissão solitária. Pegávamos nossos mandados e percorríamos os municípios da comarca. Sozinha, vesti o manto da justiça, enfrentei dissabores e preconceitos. Mas não perdi a fé. Conheci tantas pessoas boas, carentes e necessitadas. Pensava em maneiras de levar a Justiça a todas as casas sem tirar a dignidade das pessoas ou as constranger. Fui mão firme, mas também ombro amigo. Nunca deixei de cumprir minhas ordens, mas ouvi as pessoas, consolei-as e orientei-as. E nesta trajetória fiz amigos.
E então, na data de ontem, recebi uma linda e inesquecível homenagem no fórum!
E chorei. Muito.
Minha vida passou como um filme em minha cabeça.
Fui filha, mãe, dona de casa, mulher vaidosa, colega e amiga , mas sobretudo, fui serventuária da justiça. Muitas vezes me cobrei tanto! Hoje refletindo, parece que vivi mais de uma vida. Mas vivi para ver as mudanças.
Hoje, o lugar da mulher é onde ela quer estar, onde ela se coloca.
Nada vem fácil. Há lutas árduas que ainda teremos que travar, mas acreditem: é possível!
Então, agradecendo a Deus e a todos que me proporcionaram tamanha alegria, selecionei algumas fotos que divido com amigos nesta postagem, com um relato honesto de uma vida dedicada ao bem maior de servir à Justiça e ao povo desta cidade e comarca", disse Márcia.